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O professor de história da Universidade Federal de Rondônia (Unir), doutor em ciências do desenvolvimento ambiental e acadêmico de letras Dante Ribeiro da Fonseca está convicto: “Rondônia vai melhorar muito e se tornar o melhor estado do norte brasileiro”.
Segundo o autor do livro Estudos de História da Amazônia, a sensação geral das pessoas é de que a boa terra e a produção pressupõem conquistas, devido a dois fatores fundamentais: colonização recente e localização estratégica [proximidade dos estados do Acre e Amazonas e fronteiriça à Bolívia].
Ao mesmo tempo em que enfatiza o aspecto econômico, o professor alerta para a volta de latifúndios e se compromete com a valorização cultural indígena, especialmente na fronteira Brasil-Bolívia.
A localização estratégica por ele mencionada inclui o sistema rodoviário rondoniense, formado por 23,1 mil quilômetros de rodovias municipais, estaduais e federais, dos quais, 4.098,4 quilômetros de rodovias planejadas.
Pela Rodovia Interoceânica, que liga o noroeste brasileiro aos portos de Ilo e Matarani (Peru), no Oceano Pacífico, Rondônia consolidará sua estrutura logística de transportes rumo ao mercado andino, estimado em 103 milhões de consumidores.
Estudo feito pelas secretarias de agricultura e de planejamento,orçamento e gestão aponta vantagens: 1) redução de 25% a 30% nos custos logísticos, dias de transporte e frete internacional para Ásia; 2) maior intercâmbio com países fronteiriços e incremento do turismo; 3) redução da distância até os portos exportadores: para Santos, são 3,3 mil quilômetros, até Ilo são 2,07 mil; 4) redução de dias de transporte de produtos rondonienses entre o porto de Santos e Yokohama (Japão): 12,2 mil milhas em 45 dias, para 8,5 mil milhas em 34 dias, entre Ilo e aquele porto japonês.
“Pouco mais de três décadas atrás, Rondônia estava se acabando e só tinha o PIC Ouro Preto como referencial”, afirma Dante Ribeiro referindo-se ao projeto integrado de colonização do Incra em Ouro Preto do Oeste, numa das zonas de influência da rodovia BR-364.
Projeta-se ainda a construção da Ferrovia Transcontinental [pelo Ministério dos Transportes e Valec Engenharia] no trecho de 770 quilômetros entre Vilhena e Porto Velho, para o escoamento da produção de grãos e da agroindústria de algumas regiões de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul até a Hidrovia do Madeira.
O sistema hidroviário de Rondônia tem 1.056 quilômetros navegáveis nos rios Guaporé, Machado e Madeira.
“Na verdade, o crescimento do antigo território federal e a aspiração do estado começavam nos anos 1970, quando a ex-rodovia BR-29 fazia aumentar o plantio de arroz, feijão, tratores, e fortalecia uma elite latifundiária que chegara na sequência do ciclo extrativista”, analisa Ribeiro.
“Em 1985 já contávamos com 25 anos de intensa colonização, e dentro dos seus fracassos ela criou uma casta de pequenos e médios produtores que desapareceram, favorecendo depois a volta da concentração de terras por causa da soja”, prossegue.
Para o professor, o rearranjo fundiário transfere para o Guaporé, abrindo espaço à leguminosa. O governo estadual busca diminuir antigas pendências do Incra, por meio do Programa Título Já, pelo qual já regularizou 8,3 mil imóveis rurais entre 2011 e 2014 e georreferenciou 13,4 mil.
Em Rondônia desde 1984, Ribeiro lembra que ao chegar do Rio de Janeiro tinha como referências do estado apenas o Forte Príncipe da Beira e a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. De lá para cá, alguns projetos o entusiasmaram. “Antes de a Secretaria Estadual de Educação apoiar a educação indígena, eu já defendia a formação de professores indígenas”, exemplifica.
FORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL
Em parceria com os professores Dorisvaldo Nunes, Fábio Cassara e Antônio Cláudio Rabello, o historiador lançará em 20 de fevereiro de 2016 uma coletânea do Núcleo de Altos Estudos da Amazônia (NAEA) patrocinada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que descreve a formação histórica regional.
Nesse trabalho, a equipe enfatizará Rondônia. “A cavalgada, por exemplo, não é festa própria de Nova Mamoré, sinal de que a pecuária avançou por lá”.
Para Ribeiro, se ocorrerem muitas queimadas nessa região, os resultados podem ser “desastrosos”. “O rio Guaporé é raso, e com a derrubada de matas ciliares fatalmente viria o assoreamento, originando um só pântano entre o Brasil e a Bolívia”, alerta.
Fala do Beni [rio da Amazônia Boliviana], cujo regime de chuvas em suas cabeceiras influencia diretamente a cheia do rio Madeira: “Ele era desconhecido até 1880 e sua navegabilidade só fora descoberta pelo médico inglês Edwin Heat”.
RONDON E O SPI
Cartas, telegramas, um recorte de jornal, um título de eleitor, totalizando 24 documentos obtidos do escritor Eduardo Constantino Borzacov possibilitaram ao professor Ribeiro reconstituir a correspondência entre o então capitão Aluízio Ferreira [ex-presidente da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e ex-governador do Território Federal do Guaporé] e o tenente João Rivorêdo, no período de 20/2/1929 a 21/10/1930.