Notícia
Os 34 anos de criação do Estado de Rondônia, comemorados nesta terça-feira (22) são apenas uma faceta da recente ocupação desta parte da Amazônia Ocidental Brasileira. “O tempo todo vivemos fases migratórias desde a colonização portuguesa, dos primeiros núcleos de povoamento até o início da construção das hidrelétricas do rio Madeira na primeira década dos anos 2000”, explica o professor de História da Universidade Federal de Rondônia, Marco Antônio Teixeira.
O Exército Brasileiro inseriu-se na história regional desde os tempos em que os 237,5 mil quilômetros quadrados da Rondônia de hoje faziam parte do Estado de Mato Grosso. Pelotões e destacamentos de fronteira em Porto Velho, Guajará-Mirim e Forte Príncipe da Beira guarneciam a região na década de 1930, no auge do ciclo da borracha.
De acordo com o professor Teixeira, a visão crítica de Aluízio Ferreira assegurou a continuidade do povoamento. “A presença militar se tornou permanente, inteligente e decisiva”, opina.
Para melhor compreensão das distintas fases, ele menciona o período colonial, quando o governador da Província de Matto Grosso [grafia da época], Antonio Rolim de Moura fracassou na tentativa de trazer açorianos, madeirenses e cabo-verdianos.
A região conhecida por Inferno da América, a mais insalubre da Terra, impediu essa primeira grande corrente migratória. Mesmo assim, buscava-se o estímulo ao assentamento de pessoas “com penas istrativas e penas de morte”.
“Significa dizer que a região mato-grossense [até Santo Antônio do Rio Madeira] e amazonense [a partir dali] foi um presídio a céu aberto”, assinala o professor. Essa ideia de ocupação prevaleceu na sobrevida do Forte Príncipe da Beira durante o período imperial.
As portas à migração por rodovia foram abertas pelo primeiro governador, coronel Aluízio Ferreira. Por iniciativa dele, abriram-se os primeiros 20 quilômetros de estrada no sentido Capital-Ariquemes, então, apenas um posto telegráfico na floresta. “Ele aproveitou bem o trabalho do marechal Cândido Rondon, de quem era amigo”, observa o professor.
A instalação do 5º Batalhão de Engenharia de Construção (BEC) em Porto Velho, em 1966, possibilitou a manutenção e a trafegabilidade da BR-364, cujo asfalto só fora inaugurado em meados dos anos 1980.
Foi o 5º BEC que desativou a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, estabelecendo a ligação rodoviária entre Porto Velho e Guajará-Mirim.
MÃO DE OBRA ESCRAVA E DESPOVOAMENTO
Bons resultados da mineração do ouro no século 18 e a presença militar completaram-se com o uso abundante da mão de obra escrava de origem africana.
“Diferentemente do restante da Amazônia, aqui no Guaporé a mão de obra indígena teve utilização restrita, porque em áreas de fronteira a rebeldia possibilitaria uma aliança entre índios e espanhóis, o que já havia ocorrido durante as missões jesuíticas do rio Itonamas [afluente do rio Guaporé]”, analisa Teixeira. Na região se deu a maior vitória portuguesa na batalha da ocupação.
No século 19, os brancos abandonaram a região, nela permanecendo apenas os negros. Temendo o maculo, governadores de Mato Grosso evitavam Vila Bela da Santíssima Trindade e a região do Guaporé. Um deles, João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, morrera vítima dessa doença, conjugada com a malária.
“Por causa das doenças, a primeira aula de medicina do País se deu em Vila Bela. Um médico francês refugiado em Pedras Negras atendia as vítimas permanentemente”, conta o professor.
A monção fluvial do porto de Belém (PA) a Vila Bela levava dois anos, de ida e volta. Nos trechos encachoeirados, os homens descarregavam e recalafetavam batelões, ando por picadas. Teotônio, Jirau e Caldeirão do Inferno eram os piores trechos desse percurso.
O governo imperial tentou, sem êxito, outros núcleos de povoamento, que só dariam certo na segunda metade do século 19. O Vale do Madeira se tornava propriedade de grandes seringalistas bolivianos, e eles usavam a força indígena das regiões do Beni e Pando [Amazônia Boliviana].